domingo, 24 de fevereiro de 2008

Comunicação Mediada por Computador, e comunidades virtuais. Um novo campo e velhas questões.
Uma abordagem teórica


A convergência entre os computadores e as tecnologias de comunicação não se tem limitado a criar um novo meio de disponibilizar informação, tem também sido propiciador de comunicação e convergência de caracter social “a internet oferece-nos a possibilidade de comunicar com milhões de pessoas,seja na modalidade de um para um ou de um para muitos”[1] esta nova forma de interagir e comunicar, designada por CMC ou comunicação mediada por computador tem levantado às ciências sociais uma série de questões pelo facto de não estarmos perante espaços físicos delimitados geograficamente, noções como distancia tornam-se desprovidas de significado, e a aplicação de conceitos teóricos como o de comunidade, repensadas, de facto se tivermos em conta a definição de Tönnies a comunidade é usada como oposição ás sociedades modernas, no sentido de oposição, Tradição e modernidade, “Concebido como ser ou coisa actuando coesamente para dentro e para fora, chama-se uma ligação. A própria relação e bem assim a ligação, compreende-se ou como vida real e orgânica – é esta a essência da comunidade – ou para a construção ideal e mecânica – é este o conceito de sociedade.”[2] comunidade (Gemeinschaft) e a sociedade (Gesellschaft), “Tonnies construiu uma oposição elementar na qual o próprio conceito de sociedade é identificado com a modernidade. A sociedade é complexa, racional, ela comporta um alto grau de divisão do trabalho, é extensa, impõe relações formalizadas e contratuais, compreende um espaço profano, classes sociais... enquanto que a comunidade é caracterizada pela simplicidade, pela fraca divisão do trabalho, por um pensamento não científico, «mágico», por uma extensão limitada, por relações cara a cara, por ordens e por castas, por uma dominação do sagrado...”[3] de facto o conceito de comunidade tem sido alvo de discussões teóricas na sua aplicação, neste sentido Castells refere “ ... o surgimento de novos suportes tecnológicos para a sociabilidade, que eram diferentes mas não por isso inferiores, às formas anteriores de interacção social..., com fortes conotações que o acompanham, confundia diversas formas de relação social, e provocou a discussão ideológica entre os nostálgicos da velha comunidade, espacialmente limitada, e os entusiastas partidários das comunidades escolhidas, proporcionadas pela internet. De facto para os sociólogos urbanos, esta é uma discussão que vem de longe e que não fez outra coisa senão reproduzir os debates clássicos entre aqueles que viam o processo de urbanização como o desaparecimento das formas de vida comunitárias... e aqueles que identificavam a cidade com a libertação das pessoas das tradicionais formas de controlo social”[4] neste sentido novos conceitos como comunidade virtual emergem no campo das ciências sociais, Castells afirma que as mesmas “são comunidades, mas não são físicas, e não seguem os mesmo modelos de comunicação e interacção das comunidades físicas. Mas não são irreais, funcionam num plano diferente da realidade. São redes sociais interpessoais, na sua maioria baseadas em laços fracos, altamente diversificadas e especializadas, aptas a gerar reciprocidade e apoio através das dinâmicas de interacção sustentada”[5] Casttels vai ainda mais longe apontando para uma redefinição de comunidade “...para compreender as novas formas de interacção social na Era da internet consista em construir uma redefinição da comunidade, retirando transcendência à sua componente cultural e dando ênfase à função de apoio que cumpre para indivíduos e famílias, para não limitar a sua existência social a uma única modalidade de acção material”[6] no entanto se é pelas bases clássicas das teorias sociais, que os nostálgicos da velha comunidade procuram os seus argumentos, também é nos clássicos que se encontra a abertura necessária para este conceito de comunidade Max Weber ressalva "O conceito de comunidade é mantido aqui deliberadamente vago e consequentemente inclui um grupo muito heterogéneo de fenómenos”[7].
Mas será correcto falarmos apenas num tipo único de comunidades do virtual? Gustavo Cardoso diz-nos que não, e apresenta dois tipos de comunidade presentes no virtual, as comunidades virtuais propriamente ditas, e as comunidades online, “Embora ambas existam na internet devemos estabelecer designações diferentes para cada tipo. Quando nos referimos a comunidades online partimos do princípio que estamos a recriar num novo espaço – a internet – uma representação de um espaço geográfico preexistente fora do mundo digital. Um espaço sem a dimensão e características do original em que se procura recriar um determinado local e as experiências aí vividas. Normalmente o exemplo apontado é o uso, pelos munícipes, das redes cívicas de informação – como no caso da cidade italiana de Bolonha ou das cidades participantes no programa das cidades digitais. Quanto ás denominadas comunidades virtuais, a expressão é utilizada para caracterizar a formação de comunidades na internet sem correspondência com um espaço físico preexistente. A comunidade virtual é, assim, o fruto da criação de pontos de encontro que se destinam a trazer, até um mesmo ponto da internet, todos aqueles que partilham um conjunto de interesses mas que, pelo afastamento geográfico ou outros constrangimentos, não poderiam fazê-lo sem ser nesta rede”[8].
Apesar de tudo nem todas as CMC podem ou devem ser vistas como comunidades, Gustavo Cardoso refere que com base em “Estudos realizados em Portugal....indiciam que uma grande parte das formas de associação ocorridas na internet se apresenta menos estruturada e temporária, tendo como principal objectivo conhecer pessoas com interesses similares para com elas interagir, e não a manutenção de comunidades assentes em fortes laços de pertença”[9], importa-nos então definir fronteiras que nos permitam fazer a distinção entre a simples CMC e comunidades virtuais, Quentin Jones na sua tese de Doutoramento 'The Boundaries of Virtual-Communities' associa as comunidades virtuais a virtual settlements e estabelece algumas fronteiras.
“For a cyber-place with associated group-CMC to be labeled as a virtual settlement it is necessary for it to meet a minimum set of conditions. These are: (1) a minimum level of interactivity; (2) a variety of communicators; (3) a minimum level of sustained membership; and (4) a virtual common-public-space where a significant portion of interactive group-CMCs occur. The notion of interactivity will be shown to be central to virtual settlements. Further, it will be shown that virtual settlements can be defined as a cyber-place that is symbolically delineated by topic of interest and within which a significant proportion of interrelated interactive group-CMC occurs. It also follows that the existence of a virtual settlement demonstrates the existence of an associated virtual community”[10]
Ou seja um nível mínimo de interactividade, uma variedade de comunicadores condição associada á primeira característica, um nível mínimo de pertença sustentável, um espaço virtual publico comum onde a CMC ocorre, a noção de interactividade vai-se mostrar fulcral demonstrando que os Virtual settlements podem ser definidos como ciber-lugares que é simbolicamente delineado por um tópico de interesse no qual uma porção significativa de grupos de CMC se relacionam, neste encadeamento a existência de um virtual settlement demonstra a presença de um comunidade virtual associada.
O conceito de Virtual settlement é de difícil tradução literária dado não existir na língua portuguesa um termo que realmente suporte o conteúdo da palavra settlement pois a sua conotação difere dentro de contextos, Quentin Jones no entanto define-a em termos que possibilitam uma compreensão da mesma “An IRC-server containing hundreds of unrelated channels would also not indicate the existence of a single virtual community for exactly the same reason, although a single channel or a small collection of channels could”[11], ou seja um servidor de IRC contendo milhares de canais que não possuem relações entre si, não demonstra a existência de uma comunidade virtual, embora um canal ou um pequeno conjunto de canais possa demonstrar, isto significa que podemos compreender por exemplo um servidor de IRC como um espaço virtual publico comum e um canal ou o conjunto de pequenos canais que possuam as características anteriormente citadas, um nível mínimo de interactividade, uma variedade de comunicadores condição associada á primeira característica, um nível mínimo de pertença sustentável, delineados por tópicos de interesse comuns, então teremos os denominados virtual settlements onde as comunidades virtuais estão presentes.


[1] Cardoso, Gustavo. Contributos para uma sociologia do ciberespaço.disponivel em http://ciberfaces.iscte.pt/pt/documentos/sociociber/index.html <19-12-2006>
[2] Tönnies, Ferdinand. In M. Braga da Cruz, Teorias sociológicas os fundadores e os clássicos (antologia de textos), 4º ed, Lisboa Gulbenkian, 2004, p 511
[3] Elie Ghanem, Arca pedagogia, DUBET, François. A idéia de sociedade. In: --------. Sociologia da experiência. Tradução de Fernando Tomaz. Lisboa: Instituto Piaget, 1994. p. 41-50 (A sociedade é identificada com a modernidade; A sociedade é um estado nacional; A sociedade é um sistema; A sociedade é um conflito regulado) disponivel em http://pedagogia.incubadora.fapesp.br/portal/ <14-11-2006>
[4] Casttels, Manuel. Comunidades, redes e transformação da sociabilidade. In A galaxia internet 1ºed.Lisboa Gulbenkian, 2004, p 155

[5] Casttels, Manuel. A sociedade interactiva. In A sociedade em rede 2º ed. Lisboa Gulbenkian, 2005, p.471
[6] Casttels, Manuel. Comunidades, redes e transformação da sociabilidade. In A galaxia internet 1ºed.Lisboa Gulbenkian, 2004, p 157

[7] WEBER, Max. Conceitos Básicos de Sociologia. Editora Moraes. São Paulo,1987.p 78
[8] Cardoso, Gustavo. Internet. Lisboa Quimera, 2001. p 87, 88
[9] Idem, p 85
[10] Jones, Quentin. Virtual-Communities, Virtual Settlements & Cyber-Archaeology:A Theoretical Outline. Disponivel em http://jcmc.indiana.edu/vol3/issue3/jones.html#Homans,. , <07-01-2007>


[11] idem
Bibliografia de referência
Cardoso, Gustavo. Contributos para uma sociologia do ciberespaço disponivel em http://ciberfaces.iscte.pt/pt/documentos/sociociber/index.html <19-12-2006>
Casttels, Manuel. A sociedade interactiva. In A sociedade em rede 2º ed. Lisboa Gulbenkian, 2005.
Casttels, Manuel. Comunidades, redes e transformação da sociabilidade. In A galaxia internet 1ºed.Lisboa Gulbenkian, 2004.
WEBER, Max. Conceitos Básicos de Sociologia. Editora Moraes. São Paulo,1987.
Cardoso, Gustavo. Internet. Lisboa Quimera, 2001.
Jones, Quentin. Virtual-Communities, Virtual Settlements & Cyber-Archaeology:A Theoretical Outline. Disponivel em http://jcmc.indiana.edu/vol3/issue3/jones.html#Homans,%20G.C., <07-01-2007>
Gustavo cardoso, António Firmino da Costa, Cristina palma Conceição, Maria do carmo Gomes. A sociedade em rede em portugal1º ed, Porto, Campo das Letras, 2005.
Tönnies, Ferdinand. In M. Braga da Cruz, Teorias sociológicas os fundadores e os clássicos (antologia de textos), 4º ed, Lisboa Gulbenkian, 2004.
Elie Ghanem, Arca pedagogia, DUBET, François. A idéia de sociedade. In: --------. Sociologia da experiência. Tradução de Fernando Tomaz. Lisboa: Instituto Piaget, 1994. p. 41-50 (A sociedade é identificada com a modernidade; A sociedade é um estado nacional; A sociedade é um sistema; A sociedade é um conflito regulado) disponivel em http://pedagogia.incubadora.fapesp.br/portal/ <14-11-2006>
Goth uma questão de identidade
Introdução/enquadramento histórico

Qualquer abordagem ao surgimento de uma subcultura/movimento como o Gótico, carece a meu ver, de uma abordagem histórica, no intuito de identificarmos as origens, os ideais e as causas que nos permitam uma melhor compreensão da temática que abordamos.
“Conhecer uma palavra desde sua origem é como conhecer uma pessoa desde pequena.”[1]
Uma abordagem etimológica à palavra Gótico ou em Inglês Goth remete-nos para a tribo germânica dos Godos ou Goth´s, este povo germânico que habitava a Escandinávia, começou em meados do século II a realizar incursões militares para lá das suas fronteiras, em direcção a territórios do império Romano de Marco Aurélio através do rio Danúbio. No século seguinte, foram várias as incursões, ataques e saques às províncias de Anatólia e toda a península balcânica. A Costa Asiática e o Templo de Éfeso foram vítimas da fúria dos Godos. Já sob o reinado de Aureliano (270 - 275), Atenas foi invadida e seguiram-se a tomada de Rodes e Creta. Os romanos foram expulsos de Dácia, e os Godos instalaram-se definitivamente na região do Danúbio. Assim de acordo com a região ocupada, os Godos foram denominados também de Ostrogodos e Visigodos. Apesar de extintos no século VIII os seus feitos e conquistas deixaram marcas, a queda do império Romano para a qual os Godos contribuíram largamente, a destruição de inúmeras construções Greco-romanas, tal terá criado uma conotação pejorativa, a qual foi passada de geração em geração. Deste modo com o renascimento classicista do século XVI, o termo Godo ou Goth terá ficado associado ao inculto, ou destruidor de arte clássica, e sob a sua forma pejorativa o termo Godo/Goth passa a ser utilizado para, classificar a arte Cristã da idade média, período em que a Igreja absorvia a estética pré-cristã da região onde se instalava, chegando mesmo a absorver certas características pagãs.
Assim, analogicamente, este estilo arquitectónico predominante durante séculos, caracterizado pelos imponentes vitrais e gárgulas, passou a ser considerado pelos italianos, o "povo bárbaro" que "invade" o "povo clássico-cristão", tornando impura a arquitectura cristã da época.
A grande intenção era vulgarizar todo o estilo, mas nos séculos posteriores, o termo "gótico" acabou associado ao obscurantismo medieval, fincando deste modo, raízes permanentes na Europa.[2]
Esta que apresento é a versão mais usual e coerente de acordo com os historiadores, da palavra Goth, no entanto Fulcanelli, alquimista cuja verdadeira identidade permanece desconhecida, afirmava que o termo Goth seria uma deformação fonética de Argoth (ou Art Goth), uma linguagem restrita utilizada somente por Iniciados em Ocultismo. Embora historicamente essa versão seja incoerente, é uma visão interessante.
Já mais tarde durante os finais do século XVIII princípios do século XIX, surge na Alemanha o movimento filosófico, literário e artístico, que chamamos de Romantismo, será correcto afirmar que o romantismo surge em parte, como reacção ao culto da razão dos iluministas, mas numa lógica de coerência voltemos à etimologia no que se refere ao romantismo, isto é o “adjectivo "Romantic" é de origem inglesa, e deriva do substantivo "romaunt", de origem francesa ("roman" ou "romant"), que designava os romances medievais de aventuras. Depois a palavra generalizou-se a tudo aquilo que evocava a atmosfera desses romances (cavalaria e Idade Média, em geral). No séc.XVIII Rousseau (filósofo da revolução francesa) distinguiu "Romantique" (romântico) de "Romanesque" (romance)”[3], o romantismo envereda por uma procura das fontes e origens nacionais, em oposição ao universalismo classicista, a uma importância acrescida dos sentimentos, como força legitimadora da acção humana, a um irracionalismo consciente, ao amor platónico, obscurantismo, pessimismo, aos ideais do fantástico e a um certo misticismo, os românticos procuram então um regresso ao passado, que se traduz num revivalismo neo-gótico, idealizando uma idade média, um tempo medieval que comummente chamamos de idade das trevas, neste período o termo gótico passa a designar uma corrente literária aplicado como sinónimo de medieval, sombrio, macabro e por vezes, sobrenatural. As expressões Gothic Novel e Gothic Literature são utilizadas para designar este subgénero romântico, que trazia enredos sobrenaturais ambientados em cenários sombrios como castelos em ruínas e cemitérios. Assim, o termo Gothicism, de origem inglesa, é associado ao conjunto de obras da literatura gótica, esta corrente inicia-se provavelmente com a obra O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, surgem em seguida muitas outras obras que são colocadas neste género literário, The Old English Baron, a gothic story (1777), de Clara Reeve, The Recess; or, A Tale of Other Times (1783-1785), de Sophia Lee, e Charlotte Smith, autora de Emmeline: The Orphan of the Castle (1788), também ajudaram a construir o romance gótico. Na década seguinte Eliza Parsons lançou The Castle of Wolfenbach (1793) e The Mysterious Warning (1796), Regina Maria Roche escreveu Clermont e Eleanor Sleath, poderíamos continuar a identificar indefinidamente obras e autores desta corrente literária, mas vamos apenas destacar aqui, mais duas obras marcantes, já no século XIX Mary Shelley escreve Frankeisntein (1820) e Bram Stoker escreve em 1897 Dracula.[4]
Posteriormente, influenciado pela Literatura Gótica, surge o ultra-romantismo, um subgénero do romantismo que tem o tédio, a morbidez e o dramatismo como algumas das características mais significativas.
“Durante o primeiro período da Renascença, os ricos (e portanto os instruídos) vestiam-se com trajos extravagantes e ostensivos feitos com fortes e caros tingimentos coloridos, e decorações douradas e prateadas. Na primeira metade do séc. XVII, à medida que a Renascença se ia espalhando até à Europa do Norte, os holandeses inventaram os primeiros tingimentos permanentes de cor negra. Nesta altura, os mercadores holandeses substituem os italianos, enquanto principais mercadores, e Amesterdão torna-se o centro de poder e conhecimento na Europa – eram então, os cidadãos mais letrados da Europa.
Os mercadores holandeses introduzem então o café e o chocolate na Europa que se tornam a grande moda entre os mercadores ricos e instruídos, e os artistas que eles sustentavam, que se reuniam em casas de café todos vestidos de preto a beber café e a comer chocolate. Ainda hoje existem em Portugal, casas de café que oferecem um pequeno chocolate para acompanhar a "bica" ou o "cimbalino". Johann Sebastian Bach, que passava bastante tempo em cafés a conviver e a improvisar música com os seus contemporâneos, escreveu mesmo a "Cantata do Café" sobre uma mulher que queria beber café apesar da oposição do seu pai, defensor de normas morais da época, que restringiam o acto de saborear esta bebida aos indivíduos do sexo masculino.
Enquanto os estilos foram mudando entre os ricos e os poderosos, o estilo e a imagem do artista e/ou intelectual trajando de negro persistiu mesmo até aos românticos do séc. XIX, e mais tarde aos primeiros artistas avant-gard do séc. XX. Os intelectuais de Weimar tais como os fundadores da Escola de Bauhaus (Escola de arte de Vanguarda), continuaram a tradição, levando directamente à chamada Beat Generation à qual os Góticos actuais foram buscar elementos que transmutaram para a sua cultura.”[5]
É já durante o século XX no final da década de setenta que o termo Gótico volta a surgir, a subcultura gótica influenciada por várias correntes artísticas, como o Expressionismo, o Decadentismo, a Cultura de Cabaré e o Beatnick, inicialmente a mesma surge com uma expressão do movimento Punk, os seus adeptos foram inicialmente apelidados de Darks, é interessante verificar que em termos musicais, a primeira banda rotulada de Gótica terá sido para muitos os Bauhaus, (digo interessante dado o nome nos levar directamente ao movimento vanguardista Bauhaus) embora bandas como Joy Division já tivessem chamado a atenção deste sub-movimento Dark dentro do Punk, é com Bauhaus e nomeadamente com o tema Bella Lugosi is dead [6] que em termos cronológicos surge a subcultura/movimento Gótico, esta é uma posição partilhada pela grande maioria dos membros desta subcultura, no entanto sabemos que é sempre difícil traçar com exactidão cronológica este tipo de acontecimentos, existem de facto posições divergentes, Marion Philips diz-nos o seguinte “Do Punk Rock dos anos 70, floresceu uma das melhores bandas de rock de sempre, Siouxsie & The Banshees, que, segundo algumas opiniões criou a sonoridade do Goth Rock, no seu álbum "Kaleidoscope”, de 1980. Três bandas constam das influências das modernas bandas associadas ao estilo Goth, são elas: Velvet Underground, Doors (provavelmente a primeira banda de rock a ser apelidada de Gótica, pela imprensa) e Black Sabbath. A origem da denominação Goth Rock tem duas possíveis origens: alguns dizem que o termos foi pela primeira vez empregue pelo manager de Joy Division, Tony Wilson, para definir o estilo da banda; Outros dizem que a sua origem deve-se a Siouxsie Sioux. Contudo há ainda outra origem plausível, que deriva da música "Bela Lugosi's Dead", de Bauhaus, que é do ano 1979. Nas décadas de 80 e 90, muitas bandas tornaram-se famosas pela sua sonoridade e o estilo acabaria por sair da Europa e ser adoptado em todo o Mundo. Na Literatura e no Cinema, os mitos tradicionais foram reformulados por autores como Stephen King e Anne Rice e por filmes como Friday 13 e Fright Hour"[7]. De facto existem dificuldades em traçar uma linha de acontecimentos cronológicos precisos, no entanto as dificuldades não se esgotam no enquadramento cronológico/histórico, uma vez que qualquer tentativa de definir o movimento Gótico em si, mergulha num oceano de subjectividade, ideologias díspares e heterogéneas. Vejamos o que nos dizem José Carlos Bento de Carvalho, e Nuno Miguel Nunes Dionísio autores de um estudo etnográfico sobre o movimento Gótico:
“Antes de mais, é importante referir que o Goth, logo a partir de 1981, distinguiu-se em duas facções: uma denominada de Apolínea, e outra, Dionísiaca. Os primeiros mostravam-se especialmente preocupados com as facetas artísticas e filosóficas do Goth, sendo facilmente percepcionados como "mórbidos" mas "inofensivos", pois evitam gerar conflitos com a cultura vigente. Pelo contrário, a segunda facção, adoptou posturas assumidamente contra-culturais, e confrontacionais nas suas formas de expressão, sendo percepcionadas como auto-destrutivas e "perigosas", aos olhos das estruturas cognitivas da sociedade. A esta facção, pertencem os músicos e os mais variados artistas, e líderes de pensamento do movimento Goth. O estereótipo de gótico nos nossos dias, tem mais a ver com a facção Dionisíaca, caricaturada mediáticamente numa imagem de decadência em torno da auto-destruição, ignorando a componente artística característica intrínseca e inalienável do movimento.
Em 1987, a separação entre as duas facções foi-se esbatendo (18) à medida que os seus membros entravam no mundo laboral e tiveram de se conformar com as consequências do seu estatuto de adultos, condição indispensável para a sua sobrevivência. Entretanto, uma nova geração de jovens com tendências Dark aparece, a qual segue as pisadas da facção Dionisíaca, revendo-se no modo de sentir desta, sobretudo nas músicas, nos seus modos de vestir alternativos, etc. Estes novos membros do Goth, foram desaprovados pela "escola antiga" da comunidade Goth. A alguns membros desta segunda geração, foram-lhes aplicados os rótulos de "falsos góticos" ou "weekenders", por apenas darem importância ao modo de vestir, considerando-os "vazios", "sem conteúdo", "drogados". Na prática, reacenderam o movimento nos princípios dos anos 90, cujos códigos (de vestuário, de modos de pensar e agir) foram reaproximar-se da primeira geração.”[8]

Identidade (construção social)
É no sentido de fazer incidir alguma luz sobre as dimensões que caracterizam o movimento Gótico contemporâneo que dedicarei este trabalho. Para tal, e no sentido de realçar a importância de um estudo no campo da Antropologia no que se refere ao Gótico, irei privilegiar a importância da construção social da identidade, ciente que tal demonstrará o quão difícil será uma análise ao gótico, fruto da subjectividade que os actores tendem a atribuir ao seu discurso no que se refere ao movimento gótico Português.

Para tal irei recorrer a estudos anteriores, à temática que aqui abordamos, nomeadamente dois estudos etnográficos, Identity style and subculture de Paul Hodkinson e, Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo de José Carvalho e Nuno Dionísio[9], bem como a algum material empírico.
José Carvalho e Nuno Dionísio apresentam-nos antes de mais o Goth como um movimento social, nas palavras dos próprios, “O nosso objecto de estudo, não revela tendências de participação social. Mas esforça-se por manter os seus locais - espaciais e simbólicos - de apropriação, onde produz e reproduz as suas representações, desenvolve as suas práticas, e revigora os seus laços sociais, enfim, onde reforça a sua identidade. Segundo D. Mehl, há hoje uma valorização do indivíduo, da família e dos grupos de afinidade em detrimento das classes sociais e dos grupos profissionais (posição em tudo semelhante à de Mafesolli). É então um contra-sistema na medida em que põe em causa alguns dos valores centrais das sociedades contemporâneas (...) Face ao exposto até aqui, consideramos o Goth como movimento social porque: tem maior duração que as explosões colectivas; os actores têm condições semelhantes, agregam-se em torno de uma identidade; têm uma componente claramente contra-cultural e logo uma oposição; esse contrapoder é simbólico, pois a ruptura com o instituído dá-se ao nível das representações colectivas (laço moral); os laços morais e sociais e as subsequentes acções, estabelecem-se fora das instituições estabelecidas”[10] outro contributo importante deste estudo refere-se à construção de uma identidade, nomeadamente a caracterizar essa mesma identidade, porque nos apresenta parcialmente um de dois processos chaves na produção de identidades sociais, como nos diz Madureira Pinto “... a produção de identidades sociais implica a imbricação de dois processos: o processo pelo qual os actores sociais se integram em conjuntos mais vastos, de pertença ou de referência, com eles fundindo de modo tendencial (processo de identificação); e o processo pelo qual os agentes tendem a autonomizar-se e diferenciar-se socialmente, fixando em relação a outros, distâncias e fronteiras mais ou menos rígidas (processo de identização) ”[11] o que quero aqui referir é que os autores do estudo que aqui refiro, dão-nos conta do trajecto que os actores seguem para aderir ao Goth, o que é bastante pertinente se tomarmos em consideração as afirmações de José Machado Pais “As ciências sociais exploram muito o “objectivo” e o “subjectivo” mas muito pouco o “trajectivo” – feito de contactos, aproximações, deambulações”[12] o que os autores nos dizem em relação aos trajectos do actores, na sua adesão ao Goth é o seguinte:

“Verificamos que os membros deste grupo (...), partilham um percurso idêntico nos aspectos essenciais. Embora existam algumas nuances, estas não revelam disparidades que ponham em causa a sintonia, pois estão relacionadas com a criatividade individual no interior do estilo de vida Goth – aliás, extremamente valorizada dentro do movimento. Através dos seus veículos familiares, o jovem começa a posicionar-se num dado espaço social e é condicionado por uma aprendizagem cujos processos e, consequentemente, cujos efeitos dependerão do meio de origem, ao mesmo tempo que vão repercutir as tensões de uma situação social concreta. Quer isto dizer que os membros da família a que o jovem pertence fazem parte de certos grupos que mantêm determinadas relações com outros grupos — relações, evidentemente, sujeitas a tensões, a alterações (são variáveis as possibilidades de exercer pressão sobre outros ou de ficar sujeito à pressão de outros). A «visão do mundo» transmitida ao jovem e por ele assimilada não deixará de reproduzir as transformações, os conflitos, as contradições que atravessam esse próprio mundo, num dado tempo e lugar.(...) verificámos que a literatura (romântica, poesia, oculto, espiritismo) chega desde cedo ao potencial aderente ao Goth. Em alguns casos, o conhecimento de música ligada ao movimento, faz-se logo a partir da influência dos irmãos mais velhos. É interessante notar que, geralmente, é a mãe, quem faculta aos filhos disposições literárias e religiosas de tendência místicas (muito provavelmente tem a ver com a resistência de características tipificadas femininas, como a sensibilidade e a menor racionalidade; coisas a que o homem não é alheio mas que este hesitará em referir demasiado frequentemente). Opera-se uma discrepância com os pais a nível do capital cultural, quando o indivíduo, mais tarde, ao contactar na Escola, e com os amigos, adquire novos elementos culturais. Os pais desejam que o filho reproduza as disposições anteriormente herdadas no seio familiar e que garantem o sucesso convencional e estabilidade económica. A sua necessidade de se unir a grupos (vem das necessidades ao nível do afectivo, no mínimo, de aceitação; se encontra compreensão, e valorização, ainda por cima num suporte estável – o Goth – tanto melhor) onde os seus valores e preferências sejam compreendidos, leva-o a identificar-se com algumas dimensões de determinada cultura juvenil, integrando-se onde for melhor aceite. Contudo, quando no grupo, o indivíduo não satisfaz as suas necessidades, vai-se afastando gradualmente deste. Estas culturas juvenis, tal como alguns dos nossos entrevistados nos declararam, embora tivessem traços nos quais estes se reviam, impunham determinadas normas informais que revelavam incompatibilidades com algumas das suas disposições. A liberdade de expressão individual, por exemplo, encontrava-se limitada, dentro do modelo de comportamento específico de determinado grupo. Afirmam que sofreram uma "evolução", desde esta fase, até conhecerem o movimento, onde se identificam – onde deixam de estar sozinhos, para conviverem com um grupo que os compreende e que os aceita em pleno, e onde têm uma liberdade de expressão, para serem criativos e aprofundarem as suas especificidades e potencialidades individuais.
Quando conhecem o movimento Goth, identificam-se com este, a partir de diversas disposições que já tinham anteriormente, e que revêem no movimento, partilhando de modos de pensar, sentir e agir, seguem individualmente um estilo de vida apoiado na criatividade e liberdade de expressão pessoal.
Embora possam ter amigos fora da esfera do movimento, afirmam que é no Goth que encontram a solidariedade de gostos e partilha de ideias, sem quaisquer dos constrangimentos que teriam ao divulgar gostos que são tidos como desviantes pela sociedade (impondo-lhes rótulos).”[13]



Parece-me então pertinente, trabalhar aqui o conceito de identidade, ou seja, definindo como os actores constroem a sua identidade enquanto membros de um grupo, neste caso como constroem a sua identidade enquanto góticos, ou seja utilizando o que nos diz José Madureira Pinto, “é importante não se perder nunca de vista que as identidades sociais se constroem por integração e por diferenciação, com e contra, por inclusão e por exclusão, por intermédio de práticas de confirmação e práticas de distinção classistas e estatutárias”[14] de acordo com esta perspectiva percebemos aqui que a construção de uma identidade social não é linear, e que de facto podemos falar em mais que uma identidade, Claude Dubar diz-nos o seguinte “a identificação utiliza categorias socialmente disponíveis e mais ou menos legitimas a níveis diferentes (nomeações oficiais de Estado, denominações étnicas, regionais, profissionais... até de diferentes idiossincrasias...) Chamaremos de actos de atribuição aos que visam definir «que tipo de homem ou mulher você é» isto é a identidade para o outro; actos de pertença aqueles que exprimem que tipo de homem (ou mulher) você quer ser, isto é a identidade para si”[15] continuando dentro da perspectiva proposta por Claude Dubar temos aqui duas formas heterogéneas às quais algumas teorias terão tendência a reduzir a um mecanismo único “o primeiro diz respeito à atribuição da identidade pelas instituições e pelos agentes directamente em interacção com o indivíduo. Não pode analisar-se fora dos sistemas de acção nos quais o indivíduo está implicado e resulta de «relações de força» entre todos os actores implicados e da legitimidade – sempre contingente – das categorias utilizadas. A construção legítima destas categorias constitui um desafio essencial neste processo que, uma vez concluído, se impõe colectivamente, (...) O segundo processo diz respeito à interiorização activa, à incorporação da identidade pelos próprios indivíduos. Não se pode analisar fora das trajectórias sociais pelas quais e nas quais os indivíduos constroem «identidades para si» que não são mais que a história que contam a si daquilo que são”[16] neste segundo processo Dubar utiliza Goffman no que ele chama de “identidades sociais reais” e refere que “estas utilizam também categorias que devem, antes de mais, ser legitimas para o próprio indivíduo e para o grupo a partir do qual define a sua identidade-para-si.”[17] Vejamos então o quadro de categorias de análise da identidade que Dubar nos propõe.
[18]
Neste sentido a problemática apresenta uma hipótese de dualidade, como refere Dubar “irredutível a qualquer postulado de harmonização funcional, associada em geral à ideia de comunidades integradas (...) os dois processos coexistem e nenhum mecanismo macrossocial pode garantir, por exemplo que as trajectórias socioescolares produziram indivíduos providos de atitudes relacionais preadaptadas ao funcionamento óptimo dos sistemas sociais (...) O desafio é certamente o da articulação destes dois processos complexos mas autónomos: não se faz a identidade das pessoas sem elas e, contudo, não se pode dispensar os outros para forjar a sua própria identidade.

Vamos então fazer o seguinte exercício, vamos neste caso recorrer a um fórum online intitulado Portal Gótico[19], onde se encontram num espaço virtual membros do movimento gótico português, no mesmo os actores dão conta das suas representações subjectivas do que é ou não é ser Gótico.

Um dos tópicos de discussão deste fórum intitula-se”Gótico: o que dizem de nós” neste tópico de discussão os membros do movimento são confrontados com uma notícia da imprensa escrita, sobre o movimento gótico, e cedo se gera uma discussão, quando os actores são confrontados com a representação da sua identidade para o outro.

In jornal "Metro", 6 de Maio de 2007, de que transcrevo excertos do papel para aqui para vosso prazer de leitura:
Texto de Luís GuerraFoi você que pediu o regresso do gótico?TENDÊNCIAS Adormecido durante quase vinte anos, o estilo gótico está de volta. Do rock para grandes multidões à Procuradoria-Geral da República portuguesa, passando pela irmã mais nova de uma estrela pop silicónica - o negrume, os ambientes taciturnos e as dores do crescimento já se fazem sentir. E não, isto não tem nada a ver com o mosteiro da Batalha nem com os Sisters of Mercy.
Fala de seguida dos My Chemical Romance, "o porta-estandarte da nova 'vaga negra'", e do "realizador-cadáver" Tim Burton:
Burton alia um imaginário gótico não isento de humor a um fascínio pelos filmes de terror clássicos, como prova a homenagem ao desastrado Ed Wood.
Depois seguem-se as lolitas goth:
Do Japão chegam-nos os 'gadgets' mais inusitados, mas também tendências visuais cujo alcance ainda carece de explicação mais científica. (...) Trajes vitorianos, vestidos que se confundem com lingerie para matreirice de alcova, mas também artefactos aparentemente inocentes (ursinhos de peluche?! - não há um crucifixo, um morcego, nada?) fazem deste visual um sarilho tremendo para potenciais análises sociológicas.
A "irmã mais nova de uma estrela pop silicónica" refere-se a Ashlee, irmã de Jessica (não consta apelido), no artigo identificada como "estrela de 'reality-show' da MTV ('Newlyweds', sobre a sua vida de casada)", porque pinta o cabelo de preto e é aparentemente próxima de Robert Smith.
O olhar da serpente Notabilizou-se pelo combate à corrupção mas foi afastada, em 2002, da Polícia Judiciária (...) Maria josé Morgado acompanha agora de perto as falcatruas da arbitragem e nem a tonalidade do apito (douradinho como um filete) consegue ofuscar o olhar desconfiado, matreiro e sagaz da magistrada de 55 anos (...) Nada, de facto, como um estojo de maquilhagem com a dose certa de sombra, rímel e lápis preto para impor respeito. "Moonspell", é favor começar a tirar notas.


Vejamos então algumas reacções:

Isso vinha na Blitz! Eu vi e fartei-me de rir...lol E disse p mim 'isto é gozo claro!Do estilo...estes gajos estão a virar bue da dark's!Cuidado com eles!uuuuuu' looooooooool Tristeza....hehe


O que eu acho que está a acontecer, e penso ser essa a critica, é que o gótico, nos dias de hoje, se tornou fashion e é bem ser-se gótico. Há uns anos atrás era bem ser-se dread, e há uns anos mais atrás era bem ser-se punk. People come and go e penso que é essa tendência que está a ser criticada e não acho nada que o gótico se esteja a tornar em algo estúpido e anedótico. É só esperar mais um ano ou dois e as pessoas que se dizem góticas, já são outra coisa qualquer porque está na moda. Não me senti minimamente ofendida com o texto porque, pura e simplesmente, não fala de mim nem do movimento gótico. Fala de algo que está na moda e só o chamam gótico porque o pessoal se veste de preto...tudo o resto é treta!



As pessoas têm de rotular tudo e todos, para perceber as coisas. Depois falam como se fossem donas da verdade. Acabam por criar dúvidas sem nexo. Errar é humano lol

Sinceramente não me preocupa o que escrevem ou o que dizem...Eu sei bem o que sinto, todos nós o sabemos, facilmente descobrimos o que a pessoa ao nosso lado, mesmo sem ela dizer nada, o que é e o que sente, por mais negra que se pinte. O sentimento, a espiritualidade as emoções, o modo de ver a vida e o mundo é igual, e isso transparece aos olhos de quem sabe e sente... não preciso que alguém me diga nada nem de perguntar nada sobre isso. Cada um é o que é, chamem o nome que chamar, pois rotulos tem que haver para quem precisa de uma identidade e/ou identificação... a palavra "gotico" não passa de uma palavra, nem quem comigo partilhou momentos diz: "eu sou gotico" acho esta frase aberrante. Normal dita por quem está fora, mas incorrecta para quem vive assim neste particular mundo... nós somos o que somos, e não me interessa o que os outros pensam...

Vejamos então como alguns membros do movimento Gótico português definem a sua identidade, recorremos mais uma vez ao fórum, desta vez a um tópico de discussão intitulado “existe uma verdade que sirva para todo o Goticismo?”


Pessoalmente, acho que não existe uma verdade, um Dogma para a cultura gótica, principalmente porque não há uma transmição de crença nem uma religião que una a todos. Por outro lado, actualmente há uma tal ramificação dos estilos que aquilo que é verdade para uns, não o será para outros, a própria cultura de cada estilo é diferente das outras e algumas só muito vagamante se relacionam. Vejamos o caso Ciber, a noção de gótico que funciona para a vertente Ciber não vai logicamente funcionar para outras vertentes, como um estilo mais medieval ou para um estilo mais clássico, como também certamente não vai funcionar para o estilo imediamente posterior ao punk. De facto, cada estilo tem "paranóias" diferentes, se um estilo mais medieval opta por gostar de unicórnios e fadas, um estilo clássico, vai preferir vampiros e psicopatas, enquanto um estilo directamente post punk vai preferir zombies e múmias, e finalmente o estilo ciber vai escolher ciborgs e outros robôs. SE existe alguma coisa que seja indiscutível para todas as ramificações, isso só terá a ver com a história do movimento em si, porque todas as outras concepções podem ser questionadas, e só se mantém uma que é a presença do sentimento Dark (nome originalmente dado ao movimento), ou seja, às vezes o único ponto de ligação entre vários ramos é o exagerado gosto pela noite e pelos ambientes escuros e decrépitos, sejam eles cemitérios, fábricas, castelos, florestas ou outras coisas. Em relação às outras pessoas, o caso complica-se, porque há a geral tendência para todos pensarem que somos "gente do demo", que somos todos satânicos medievais e que vamos para os cemitérios à noite abrir campas. Isto quando não pensam que todos temos um machado em casa com o qual vamos matar os nossos pais, algum dia. Ora, como todos aqui sabemos, nem de perto nem de longe, a cultura gótica serve nestes preconceitos, mas é exactamente pela falta de informação do público em geral e pela profusão de estilos que pouco têm em comum, que as pessoas pegaram num estereotipo marginal para classificarem este movimento. Mais um ponto, em relação à MTV, bem, para quem não sabe, Evanescence tem um novo e lindo cd, do qual já ouvi uma música. Ao que me parece o estilo deles está a mudar, o que significa que vai haver um decréscimo na população juvenil de góticos em todo o mundo. A questão da moda é sempre um pau de dois bicos, porque há pessoas que só entram neste mundo por moda e outras que só conseguiram entrar porque se tornou moda, e os paizinhos viram na MTV como era ao fixe e simpático ser gótico, ou algo do género. Pessoalmente, já passei a faze da caça às bruxas, e se á pessoas que cá andam por moda, olha seja! Inteligente da nossa parte seria agarrar nessas pessoas e dar-lhes cultura a sério e não gozar com elas até à exaustão (se bem que algumas figuras são bastante propensas a isso). Concluindo, suponho que não exista uma verdade gó, porque no fundo somos tantos e tão diferentes já, que era impossível que houvesse uma verdade que servisse a todos...



Creio que as pessoas têm uma certa pré-disposição a estas coisas! Pode haver até uma coincidência muito ténue, mas ninguém é gótico apenas porque sim! Tem que haver dentro da pessoa algo que já está relacionado com a cultura apesar de a pessoa depois ir sempre aprendendo os pequenos "truques" da coisa! Acho é que falares das outras culturas como seguindo padrões dogmáticos e arcaicos não stá completamente certo!

Off no meu comentário. uhahuahuahuahuhuahuahuhuuhauha off terminado Vamos a conceitos básicos, alguém encontrou o termo goticismo em algum livro? em algum dicionário? Existe o termo gothicismus que se refere a literatura inglesa. Mas não é o nome da literatura inglesa é um "apelido" como dizem ser pessimista, das trevas, dark e etc.. Existe sim uma literatura que recebeu o nome de gótica, não o termo goticismo. A subcultura gótica trouxe alguns elementos desta literatura para ela, mas isto não quer dizer que esta literatura seja genuinamente gótica, ou seja nós a adaptamos, como existem várias bandas que usam em suas letras, mas no sentido divertido e brincar com o horror. Vamos concluir: Goticismo não existe. Forma de comportamente é do individuo e não da subcultura como todo, todos tem diferenças e caracteristicas próprias, mas para ligar-se em uma cena algo tem em comum como a música, o gosto pelos filmes, gosto de livros e etc...

Opah, minha gente... Vamos ler os tópicos antes de responder às coisas com sete pedras na mão! Vá lá... Já discutimos noutro tópico que a cultura gótica é uma subcultura, logicamente: apresenta-se como um movimento mais ou menos organizado que se insurge contra o modelo da sociedade em que se desenvolve, mas não apresenta nenhum modelo que substitua aquele contra o qual se insurge, por isso não pode ser considerada uma contra-cultura (contra-cultura eram os hippies). Também já discutimos sobre o termo Goticismo, Lady Nemesèd, se fores ver lá atrás a minha primeira resposta vem dizer exactamente o que tu disseste, eu também não gosto do termo goticismo e já disse isso, as pessoas apenas usam esse termos por comudidade... Por mim, ele também devia desaparecer... Usa-se o termo porque dá jeito, só isso, se o conseguirmo erradicar melhor, mas não vamos crucificar pessoas por isso. Logicamente, no meu entender não há uma verdade única, nenhum dogma supremo que regule as actividades da cena gótica, nem faz sentido que haja...

É de facto interessante verificarmos que se no primeiro exemplo, quando confrontados na representação que os outros fazem da identidade enquanto Gótico os actores, respondem com algum sarcasmo e crítica, como seria de esperar, já no segundo exemplo quando chamados a comentar sobre a sua identidade, ou “identidade-para-si (...) categorias que devem antes de mais, ser legítimas para o próprio individuo e para o grupo a partir do qual define a sua identidade-para-si”[20] os resultados podem não ser os esperados fora de uma percepção académica/científica, recordemos então o que citei acima para José Madureira Pinto, “é importante não se perder nunca de vista que as identidades sociais se constroem por integração e por diferenciação, com e contra, por inclusão e por exclusão, por intermédio de práticas de confirmação e práticas de distinção classistas e estatutárias, e que todo este processo, feito de complementaridade, contradições e lutas, não pode senão conduzir numa lógica de espelhos, a identidades impuras sincréticas e ambivalentes. A construção de identidades alimenta-se sempre se alteridades (reais ou de referência) e por isso nunca exclui em absoluto conivências e infidelidades recíprocas – para o desespero dos que nela querem ver o desenvolvimento harmonioso e coerente...”[21]

Identidade (Subcultura)

Já Paul Hodkinson no seu estudo etnográfico Goth identity, style and subculture[22] refere o perigo de abordarmos as subculturas como homogéneas, de facto para ele, no que se refere a uma identidade inerente ao Goth, é preciso ter em conta que um elemento central desta subcultura é antes demais a diversidade, e que os níveis de empenho dos seus membros diferem, bem como os estilos, será para Hodkison o privilegiar de estilos heterogéneos e de uma liberdade individual o elemento mais importante que marca a identidade desta subcultura, “Importante: conceptualizar substância (NT: consistência) cultural desta forma não aponta para um retorno as formas tradicionais de teorização da Subcultura (...). O estilo encapsula importantes elementos de diversidade e dinamismo, as suas fronteiras não são absolutas, e os níveis de comprometimento variam de um indivíduo para outro.”[23] Posição em tudo semelhante à de José Carvalho e Nuno Dionísio, “Verificamos que os membros deste grupo (...), partilham um percurso idêntico nos aspectos essenciais (...) pois estão relacionadas com a criatividade individual no interior do estilo de vida Goth – aliás, extremamente valorizada dentro do movimento”[24] Hodkison refere ainda que os indicadores clássicos de uma identidade social, como classe social, profissão, etnicidade e género tendem a ocupar uma posição secundária, na afiliação a esta subcultura.
A proposta de Paul Hodkison, na análise desta subcultura compreende nas palavras do mesmo “(...) uma redefinição do conceito de subcultura, baseada em indicadores de relativa diferenciação, identidade, comprometimento e autonomia (...) caracterizados mais por sua substância do que pela sua fluidez. Fazendo isso, evitamos a super generalização de superficialidade”[25]

Identidade (estilos)
Paul Hodkinson organiza três grandes grupos de características e símbolos da Subcultura Gótica, o sombrio e o macabro, o feminino e o ambíguo e fragmentos de estilos relacionados.

Sombrio e macabro: “Talvez o mais óbvio seja que o estilo gótico orbite ênfase geral em artefactos, aparências e música considerados adequadamente escuros, sombrios e, algumas vezes, macabros, (...) uma avassaladora e consistente ênfase na cor preta, tanto em termos de vestuário, cabelo, decoração doméstica e até mesmo nos animais de estimação! Em termos de aparência pessoal, o tema também foi implícito na tendência de muitos góticos a usar uma base branca sobre a face para destacar o usualmente, consistente e estendido eyeliner preto, o blush acentuando as maçãs do rosto e o batom escuro, todas coisas que podem ser ligadas directamente a algumas bandas do começo dos anos 1980. Muito ironicamente, considerando a quantidade de tempo que a maioria deles gastavam na sua aparência, os góticos tendem também a esperar que seus pubs e clubes sejam particularmente escurecidos, frequentemente com fumo no palco ou atmosfera artificial.”[26]






O feminino e o ambíguo: “Embora sem a paródia, ou sem fins políticos explícitos, o meio ambiente padrão característico da subcultura gótica afrouxou consistentemente os elos entre as facetas estilísticas dos géneros e as categorias sexuais fixas de homem e mulher. Mais especificamente, sem realmente considerar estas categorias insignificantes, o gótico, desde o seu começo, caracterizou-se pela predominância, tanto nos homens quanto nas mulheres, de tipos de estilos específicos que seriam normalmente associados com feminilidade.”[27] Embora não este não seja um elemento predominante desta subcultura, a androginia é comum, bem como o nível de aceitação de tendências ou opções sexuais, Hodkison refere que tal não será alheio à capacidade de aceitação, da diferença dentro desta subcultura.
“Além das jóias e da maquilhagem, numerosos exemplos de estilos e de roupas relativamente femininos, muitos dos quais também consistentes com a ênfase no sombrio têm sido importantes para ambos os sexos na concepção da cena. Exemplos estabelecidos à um tempo relativamente longo incluíam os Itens Vitorianos” [28]
Aconteceram mais diversificações na forma pela qual a feminilidade se manifestava. Muitos dos estilos de roupas dos anos 1980, agora associados aos “góticos-tradicionais”, foram frequentemente combinados com novas influências, ou rejeitados em favor destas. Num movimento que remonta a algumas das influências punks originais, a aspectos da cena fetichista dos anos 90, e, indubitavelmente, à indústria do sexo, que se tornaram largamente populares. Era cada vez mais fácil ver Góticos de ambos os sexos a vestir calças, camisas, saias, corsets, tops e coleiras de borracha ou PVC preto e, às vezes, coloridos.



Fragmentos de estilos relacionados: “Se por um lado, como tenho argumentado, o leque de estilos da cena gótica tinha um considerável grau de consistência, por outro lado uma parte dos elementos reflectia sobreposições com a música ou a moda de outras subculturas.”[29] No estudo de Hodkison realça-se também a diversidade de estilos de outras subculturas “underground”, que têm influência no Gótico, nomeadamente através da adopção de elementos do beatnick, Punk, vanguarda, ou de géneros musicais, desde o rock até ao metal.



Uma identidade Translocal.
Começo aqui por uma afirmação de Paul Hodkison “este livro fará de tudo para enfatizar a forma translocal que a cena gótica tomou e, por inferência, de agrupamentos semelhantes. Góticos separados geograficamente compartilham tanto um senso translocal de identidade, quanto um relativamente consistente e diferenciado conjunto de gostos e valores.”[30] A perspectiva do autor não é que certos elementos de estilos como o gótico, se tenham espalhado por uma variedade de países, regiões e cidades sem conexão - embora pudesse muito bem ser assim. Pelo contrário, a sugestão é que a existência translocal, e potencialmente, transnacional, destes estilos de vida, sejam totalidades interconectadas.
Hodkison, recorrendo à transcrição de entrevistas em profundidade, fornece elementos do discurso dos entrevistados, onde os mesmo, instados a comentar, se por exemplo se sentiriam melhor com habitantes da sua localidade ou país, ou com outros membros da subcultura Gótica de outras localidades ou países, as respostas são unânimes, ao considerarem, que preferem estar perante elementos da sua subcultura, não obstante de onde estes sejam. O autor manifesta ainda a ênfase na interconexão desta subcultura a nível globlal, realçando o papel das revistas especificas desta subcultura, que se espalham numa rede underground localizada, dos flyers de festas e concertos, disponíveis em lojas dedicadas ao gótico, mas sobretudo no papel desempenhado pela rede informacional, com particular incidência na internet, seja através de da comunicação mediada por computador, (newsgroups, mailing lists, chats ou forums) ou páginas web, de agrupamentos específicos, como sites comerciais ligados ao gótico, ou mesmo páginas pessoais dos membros desta cultura.
O autor tenta no entanto dar conta da importância que as comunidades virtuais, da comunicação mediada por computador[31] têm na interligação desta subcultura.




Bibliografia de referência

Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002.

Schütz, Ricardo. Word histories, disponível em http://www.sk.com.br/sk-hist.html <07-06-2007>

Jordanes (historiador godo, autor do livro de Cassiodorus) Tradução de Mierow, Charles. Jordanes the origin and deeds of the goths, disponível em http://www.acs.ucalgary.ca/~vandersp/Courses/texts/jordgeti.html <07-06-2007>

____. Romantismo. Disponível em http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/j_g_ferreira/romantis.html <07-06-2007>

Philips, Marion. In Gothic Culture Timeline disponível em http://www.angelfire.com/moon/darkchamber/goth-timeline.htm#12th.goth-timeline <04-05-2007>

Carvalho, José. Dionísio, Nuno. Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo. Disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/A%20Soc%20dos%20Mov%20Soc17.htm <17-06-2007>

Madureira P, José. In Revista Crítica de ciências sociais, Nº 32, Junho de 1991, Lisboa.

Pais, Machado. In SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 49, 2005.

Dubar, Claude. In A Socialização construção social das identidades. 2º Ed, Porto editora, Porto, 1997.

Fórum de discussão online dos membros do movimento Gótico Português. Disponível em http://portalgotico.pt.vu/

Graveyard sessions. Disponível em http://www.graveyardsessions.net/

Pais, Machado. In Sociologia da vida quotidiana, 2º Ed, ICS, 2002, Lisboa.
[1] Schütz, Ricardo. Word histories, disponível em http://www.sk.com.br/sk-hist.html <07-06-2007>
[2] Fonte: Jordanes (historiador godo, autor do livro de Cassiodorus) Tradução de Mierow, Charles. Jordanes the origin and deeds of the goths, disponível em http://www.acs.ucalgary.ca/~vandersp/Courses/texts/jordgeti.html <07-06-2007>
[3] ____. Romantismo. Disponível em http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/j_g_ferreira/romantis.html <07-06-2007>
[4] Nota: Os textos completos em Inglês, referentes às obras apresentadas, podem ser consultados no Projecto Gutenberg em http://www.gutenberg.org
[5] Carvalho, José. Goth: o Ultra-romantismo juvenil em Lisboa, Investigação etnográfica, disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/goth%20o%20ultraromantismo.htm <02-01-2007z>
[6] NOTA: Béla Ferenc Dezsõ Blaskó, mais conhecido como Béla Lugosi, (Lugoj, 20 de outubro de 1882Los Angeles, 16 de agosto de 1956) Béla Lugosi começou a sua carreira nos palcos da Europa em várias peças de William Shakespeare. Mas no entanto tornou-se famoso pelo seu papel de Drácula numa encenação da clássica história, do vampiro Drácula de Bram Stoker.
[7] Philips, Marion. In Gothic Culture Timeline disponível em http://www.angelfire.com/moon/darkchamber/goth-timeline.htm#12th.goth-timeline <04-05-2007>



[8] Carvalho, José. Dionísio, Nuno. Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo. Disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/goth%20o%20ultraromantismo.htm
<17-06-2007>
[9] disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/goth%20o%20ultraromantismo.htm
[10] Carvalho, José. Dionísio, Nuno. Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo. Disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/A%20Soc%20dos%20Mov%20Soc17.htm <17-06-2007>
[11] Madureira P, José. In Revista Crítica de ciências sociais, Nº 32, Junho de 1991, Lisboa. P 218.
[12] Pais, Machado. In SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 49, 2005, P 64.

[13] Carvalho, José. Dionísio, Nuno. Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo. Disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/concls27.htm <17-07-2007>
[14] Madureira P, José. In Revista Crítica de ciências sociais, Nº 32, Junho de 1991, Lisboa. P 219.
[15] Dubar, Claude. In A Socialização construção social das identidades. 2º Ed, Porto editora, Porto, 1997, P 106.
[16] Idem, Op Cit P 107.
[17] Idem, Op Cit.
[18] Idem, Op Cit P 109.
[19] Nota: Fórum de discussão online dos membros do movimento Gótico Português. Disponível em http://portalgotico.pt.vu/
[20] Dubar, Claude. In A Socialização construção social das identidades. 2º Ed, Porto editora, Porto, 1997, P 107.
[21] Madureira P, José. In Revista Crítica de ciências sociais, Nº 32, Junho de 1991, Lisboa. P 219.

[22] Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002.
[23] Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002. P 29. Tradução de Kipper disponível em http://www.themaozoleum.com/phoenix/alpha13.html <01/02/2008>
[24] Carvalho, José. Dionísio, Nuno. Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo. Disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/concls27.htm <17-07-2007>
[25] Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002. P 33. Tradução de Kipper disponível em http://www.themaozoleum.com/phoenix/alpha13.html <01/02/2008>

[26] Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002. P 42. Tradução de Kipper disponível em http://www.themaozoleum.com/phoenix/alpha13.html <01/02/2008>

[27] Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002. P 48. Tradução de Kipper disponível em http://www.themaozoleum.com/phoenix/alpha13.html <01/02/200>
[28] Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002. P 52. Tradução de Kipper disponível em http://www.themaozoleum.com/phoenix/alpha13.html <01/02/200>
[29] Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002. P 56. Tradução de Kipper disponível em http://www.themaozoleum.com/phoenix/alpha13.html <01/02/200>
[30] Hodkison, Paul. Goth identity, style and subculture. Berg.Oxford-New York, 2002. P 28. Tradução de Kipper disponível em http://www.themaozoleum.com/phoenix/alpha13.html <01/02/200>

[31] Nota: Ver o tema comunidades virtuais, neste Portfolio.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

domingo, 25 de novembro de 2007





















RAIVA
Hoje abarco a raiva
.
De ser quem sou
De pensar assim
De não lembrar
Um sonho que cessou
Sem ser parte de mim
Não me deixa respirar
.
Morre ó mundo
Nojento lugar
O asco profundo
Que me faz gritar
.
Mas quem manda?
E quem obedece?
A verdade, INJUSTIÇADA
É disto que o mundo padece
.
Não tenho medo da morte
Só não tenho é sorte
Assim receio o que me trás a vida
Uma cruel sina sentida...
.
E sinto como quem jaz
Numa cruel dor
Agora tanto me faz
Que faça frio ou calor

Hehe, e assim se sai de casa....



domingo, 29 de julho de 2007

Jantar Portal Gótico



























Infelizmente o telemóvel a tirar fotos não ajuda muito...





















quinta-feira, 19 de julho de 2007

Gótico ou romantico?

Qualquer abordagem ao surgimento de um movimento como o Gótico, carece a meu ver, de uma abordagem histórica, no intuito de identificarmos as origens, os ideais e as causas que nos permitam uma melhor compreensão da temática que abordamos.

“Conhecer uma palavra desde sua origem é como conhecer uma pessoa desde pequena.”[1]

Uma abordagem etimológica à palavra Gótico ou em Inglês Goth remete-nos para a tribo germânica dos Godos ou Goth´s, este povo germânico que habitava a Escandinávia, começou em meados do século II a realizar incursões militares para lá das suas fronteiras, em direcção a territórios do império Romano de Marco Aurélio através do rio Danúbio. No século seguinte, foram várias as incursões, ataques e saques às províncias de Anatólia e toda a península balcânica. A Costa Asiática e o Templo de Éfeso foram vítimas da fúria dos Godos. Já sob o reinado de Aureliano (270 - 275), Atenas foi invadida e seguiram-se a tomada de Rodes e Creta. Os romanos foram expulsos de Dácia, e os Godos instalaram-se definitivamente na região do Danúbio. Assim de acordo com a região ocupada, os Godos foram denominados também de Ostrogodos e Visigodos. Apesar de extintos no século VIII os feitos e conquistas deste povo deixou marcas, a queda do império Romano para a qual os Godos contribuíram largamente, a destruição de inúmeras construções Greco-romanas, terão criado uma conotação pejorativa que foi passada de geração em geração. Deste modo com o renascimento classicista do século XVI, o termo Godo terá ficado associado a inculto ou destruidor de arte clássica, e sob a sua forma pejorativa o termo Godo passa a ser utilizado para, classificar a arte Cristã da idade média período em que a Igreja absorvia a estética pré-cristã da região onde se instalava, chegando mesmo a absorver certas características pagãs.
Assim, analogicamente, este estilo arquitectónico predominante durante séculos, caracterizado pelos imponentes vitrais e gárgulas, passou a ser considerado pelos italianos, o "povo bárbaro" que "invade" o "povo clássico-cristão", tornando impura a arquitectura cristã da época.
A grande intenção era vulgarizar todo o estilo, mas nos séculos posteriores, o termo "gótico" acabou associado ao obscurantismo medieval, fincando deste modo, raízes permanentes na Europa.[2] Esta que apresento é a versão mais usual e coerente de acordo com os historiadores, da palavra Goth, no entanto Fulcanelli, alquimista cuja verdadeira identidade permanece desconhecida, afirmava que o termo Goth seria uma deformação fonética de Argoth (ou Art Goth), uma linguagem restrita utilizada somente por Iniciados em Ocultismo. Embora historicamente essa versão seja incoerente, é uma visão interessante.
Já mais tarde durante os finais do século XVIII princípios do século XIX, surge na Alemanha o movimento filosófico, literário e artístico, que chamamos de Romantismo, será correcto afirmar que o romantismo surge em parte, como reacção ao culto da razão dos iluministas, mas numa lógica de coerência voltemos à etimologia no que se refere ao romantismo, isto é o “adjectivo "Romantic" é de origem inglesa, e deriva do substantivo "romaunt", de origem francesa ("roman" ou "romant"), que designava os romances medievais de aventuras. Depois a palavra generalizou-se a tudo aquilo que evocava a atmosfera desses romances (cavalaria e Idade Média, em geral). No séc.XVIII Rousseau (filósofo da revolução francesa) distinguiu "Romantique" (romântico) de "Romanesque" (romance)”[3], o romantismo envereda por uma procura das fontes e origens nacionais, em oposição ao universalismo classicista, a uma importância acrescida dos sentimentos, como força legitimadora da acção humana, a um irracionalismo consciente, ao amor platónico, obscurantismo, pessimismo, aos ideais do fantástico e a um certo misticismo, os românticos procuram então um regresso ao passado, que se traduz num revivalismo neo-gótico, idealizando uma idade média, um tempo medieval que comummente chamamos de idade das trevas, neste período o termo gótico passa a designar uma corrente literária aplicado como sinónimo de medieval, sombrio, macabro e por vezes, sobrenatural. As expressões Gothic Novel e Gothic Literature são utilizadas para designar este subgénero romântico, que trazia enredos sobrenaturais ambientados em cenários sombrios como castelos em ruínas e cemitérios. Assim, o termo Gothicism, de origem inglesa, é associado ao conjunto de obras da literatura gótica, esta corrente inicia-se provavelmente com a obra O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, surgem em seguida muitas outras obras que são colocadas neste género literário, The Old English Baron, a gothic story (1777), de Clara Reeve, The Recess; or, A Tale of Other Times (1783-1785), de Sophia Lee, e Charlotte Smith, autora de Emmeline: The Orphan of the Castle (1788), também ajudaram a construir o romance gótico. Na década seguinte Eliza Parsons lançou The Castle of Wolfenbach (1793) e The Mysterious Warning (1796), Regina Maria Roche escreveu Clermont e Eleanor Sleath, poderíamos continuar a identificar indefinidamente obras e autores desta corrente literária, mas vamos apenas destacar aqui, mais duas obras marcantes, já no século XIX Mary Shelley escreve Frankeisntein (1820) e Bram Stoker escreve em 1897 Dracula.[4]
Posteriormente, influenciado pela Literatura Gótica, surge o ultra-romantismo, um subgénero do romantismo que tem o tédio, a morbidez e o dramatismo como algumas das características mais significativas.

“Durante o primeiro período da Renascença, os ricos (e portanto os instruídos) vestiam-se com trajos extravagantes e ostensivos feitos com fortes e caros tingimentos coloridos, e decorações douradas e prateadas. Na primeira metade do séc. XVII, à medida que a Renascença se ia espalhando até à Europa do Norte, os holandeses inventaram os primeiros tingimentos permanentes de cor negra. Nesta altura, os mercadores holandeses substituem os italianos, enquanto principais mercadores, e Amesterdão torna-se o centro de poder e conhecimento na Europa – eram então, os cidadãos mais letrados da Europa.
Os mercadores holandeses introduzem então o café e o chocolate na Europa que se tornam a grande moda entre os mercadores ricos e instruídos, e os artistas que eles sustentavam, que se reuniam em casas de café todos vestidos de preto a beber café e a comer chocolate. Ainda hoje existem em Portugal, casas de café que oferecem um pequeno chocolate para acompanhar a "bica" ou o "cimbalino". Johann Sebastian Bach, que passava bastante tempo em cafés a conviver e a improvisar música com os seus contemporâneos, escreveu mesmo a "Cantata do Café" sobre uma mulher que queria beber café apesar da oposição do seu pai, defensor de normas morais da época, que restringiam o acto de saborear esta bebida aos indivíduos do sexo masculino.
Enquanto os estilos foram mudando entre os ricos e os poderosos, o estilo e a imagem do artista e/ou intelectual trajando de negro persistiu mesmo até aos românticos do séc. XIX, e mais tarde aos primeiros artistas avant-gard do séc. XX. Os intelectuais de Weimar tais como os fundadores da Escola de Bauhaus (Escola de arte de Vanguarda), continuaram a tradição, levando directamente à chamada Beat Generation à qual os Góticos actuais foram buscar elementos que transmutaram para a sua cultura.”
[5]

É já durante o século XX no final da década de setenta que o termo Gótico volta a surgir, a subcultura gótica influenciada por várias correntes artísticas, como o Expressionismo, o Decadentismo, a Cultura de Cabaré e o Beatnick, inicialmente a mesma surge com uma expressão do movimento Punk, os seus adeptos foram inicialmente apelidados de Darks, é interessante verificar que em termos musicais, a primeira banda rotulada de Gótica terá sido para muitos os Bauhaus, (digo interessante dado o nome nos levar directamente ao movimento vanguardista Bauhaus) embora bandas como Joy Division já tivessem chamado a atenção deste sub-movimento Dark dentro do Punk, é com Bauhaus e nomeadamente com o tema Bella Lugosi is dead [6] que em termos cronológicos surge o movimento Gótico, esta é uma posição partilhada pela grande maioria dos membros do movimento gótico, no entanto sabemos que é sempre difícil traçar com exactidão cronológica este tipo de acontecimentos, existem de facto posições divergentes, Marion Philips diz-nos o seguinte “Do Punk Rock dos anos 70, floresceu uma das melhores bandas de rock de sempre, Siouxsie & The Banshees, que, segundo algumas opiniões criou a sonoridade do Goth Rock, no seu álbum "Kaleidoscope”, de 1980. Três bandas constam das influências das modernas bandas associadas ao estilo Goth, são elas: Velvet Underground, Doors (provavelmente a primeira banda de rock a ser apelidada de Gótica, pela imprensa) e Black Sabbath. A origem da denominação Goth Rock tem duas possíveis origens: alguns dizem que o termos foi pela primeira vez empregue pelo manager de Joy Division, Tony Wilson, para definir o estilo da banda; Outros dizem que a sua origem deve-se a Siouxsie Sioux. Contudo há ainda outra origem plausível, que deriva da música "Bela Lugosi's Dead", de Bauhaus, que é do ano 1979. Nas décadas de 80 e 90, muitas bandas tornaram-se famosas pela sua sonoridade e o estilo acabaria por sair da Europa e ser adoptado em todo o Mundo. Na Literatura e no Cinema, os mitos tradicionais foram reformulados por autores como Stephen King e Anne Rice e por filmes como Friday 13 e Fright Hour"[7]. De facto existem dificuldades em traçar uma linha de acontecimentos cronológicos precisos, no entanto as dificuldades não se esgotam no enquadramento cronológico/histórico, uma vez que qualquer tentativa de definir o movimento Gótico em si, mergulha num oceano de subjectividade, ideologias díspares e heterogéneas. Vejamos o que nos dizem José Carlos Bento de Carvalho, e Nuno Miguel Nunes Dionísio autores de uma tese sobre o movimento Gótico:

Antes de mais, é importante referir que o Goth, logo a partir de 1981, distinguiu-se em duas facções: uma denominada de Apolínea, e outra, Dionísiaca. Os primeiros mostravam-se especialmente preocupados com as facetas artísticas e filosóficas do Goth, sendo facilmente percepcionados como "mórbidos" mas "inofensivos", pois evitam gerar conflitos com a cultura vigente. Pelo contrário, a segunda facção, adoptou posturas assumidamente contra-culturais, e confrontacionais nas suas formas de expressão, sendo percepcionadas como auto-destrutivas e "perigosas", aos olhos das estruturas cognitivas da sociedade. A esta facção, pertencem os músicos e os mais variados artistas, e líderes de pensamento do movimento Goth. O estereótipo de gótico nos nossos dias, tem mais a ver com a facção Dionisíaca, caricaturada mediáticamente numa imagem de decadência em torno da auto-destruição, ignorando a componente artística característica intrínseca e inalienável do movimento.
Em 1987, a separação entre as duas facções foi-se esbatendo (18) à medida que os seus membros entravam no mundo laboral e tiveram de se conformar com as consequências do seu estatuto de adultos, condição indispensável para a sua sobrevivência. Entretanto, uma nova geração de jovens com tendências Dark aparece, a qual segue as pisadas da facção Dionisíaca, revendo-se no modo de sentir desta, sobretudo nas músicas, nos seus modos de vestir alternativos, etc. Estes novos membros do Goth, foram desaprovados pela "escola antiga" da comunidade Goth. A alguns membros desta segunda geração, foram-lhes aplicados os rótulos de "falsos góticos" ou "weekenders", por apenas darem importância ao modo de vestir, considerando-os "vazios", "sem conteúdo", "drogados". Na prática, reacenderam o movimento nos princípios dos anos 90, cujos códigos (de vestuário, de modos de pensar e agir) foram reaproximar-se da primeira geração.”
[8]

É no sentido de fazer incidir alguma luz sobre as dimensões que caracterizam o movimento Gótico contemporâneo que dedicarei este trabalho. Para tal, e no sentido de realçar a importância de um estudo sociológico no que se refere ao Gótico, irei privilegiar a importância da construção social da identidade, ciente que tal demonstrará o quão difícil será uma análise ao gótico, fruto da subjectividade que os actores tendem a atribuir ao seu discurso no que se refere ao movimento gótico Português.

Olhar sobre uma perspectiva sociológica.

Estudos sociológicos anteriores, à temática que aqui abordamos são escassos, de facto após uma longa pesquisa no universo de estudos produzidos em redor do gótico, tive a oportunidade de encontrar apenas uma tese de licenciatura da autoria de José Carlos Bento de Carvalho e Nuno Miguel Nunes Dionísio, intitulada Goth – O Ultra-Romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativa[9], no entanto a orientação teórica seguida nesse estudo não nos dá conta do que realmente aqui queremos saber, no entanto as contribuições do mesmo são importantes no sentido em que nos apresentam o gótico como um movimento “O nosso objecto de estudo, não revela tendências de participação social. Mas esforça-se por manter os seus locais - espaciais e simbólicos - de apropriação, onde produz e reproduz as suas representações, desenvolve as suas práticas, e revigora os seus laços sociais, enfim, onde reforça a sua identidade. Segundo D. Mehl, há hoje uma valorização do indivíduo, da família e dos grupos de afinidade em detrimento das classes sociais e dos grupos profissionais (posição em tudo semelhante à de Mafesolli). É então um contra-sistema na medida em que põe em causa alguns dos valores centrais das sociedades contemporâneas (...) Face ao exposto até aqui, consideramos o Goth como movimento social porque: tem maior duração que as explosões colectivas; os actores têm condições semelhantes, agregam-se em torno de uma identidade; têm uma componente claramente contra-cultural e logo uma oposição; esse contrapoder é simbólico, pois a ruptura com o instituído dá-se ao nível das representações colectivas (laço moral); os laços morais e sociais e as subsequentes acções, estabelecem-se fora das instituições estabelecidas”[10] outro contributo importante deste estudo refere-se à construção de uma identidade, não que este estudo seja conclusivo ou até mesmo explícito no que se refere a esta dimensão, nomeadamente a caracterizar essa mesma identidade, mas porque nos apresenta parcialmente um de dois processos chaves na produção de identidades sociais, como nos diz Madureira Pinto “... a produção de identidades sociais implica a imbricação de dois processos: o processo pelo qual os actores sociais se integram em conjuntos mais vastos, de pertença ou de referência, com eles fundindo de modo tendencial (processo de identificação); e o processo pelo qual os agentes tendem a autonomizar-se e diferenciar-se socialmente, fixando em relação a outros, distâncias e fronteiras mais ou menos rígidas (processo de identização) ”[11] o que quero aqui referir é que os autores do estudo que aqui refiro, dão-nos conta do trajecto que os actores seguem para aderir ao Goth, o que é bastante pertinente se tomarmos em consideração as afirmações de José Machado Pais “As ciências sociais exploram muito o “objectivo” e o “subjectivo” mas muito pouco o “trajectivo” – feito de contactos, aproximações, deambulações”[12] o que os autores nos dizem em relação aos trajectos do actores, na sua adesão ao Goth é o seguinte:

“Verificamos que os membros deste grupo juvenil, partilham um percurso idêntico nos aspectos essenciais. Embora existam algumas nuances, estas não revelam disparidades que ponham em causa a sintonia, pois estão relacionadas com a criatividade individual no interior do estilo de vida Goth – aliás, extremamente valorizada dentro do movimento. Através dos seus veículos familiares, o jovem começa a posicionar-se num dado espaço social e é condicionado por uma aprendizagem cujos processos e, consequentemente, cujos efeitos dependerão do meio de origem, ao mesmo tempo que vão repercutir as tensões de uma situação social concreta. Quer isto dizer que os membros da família a que o jovem pertence fazem parte de certos grupos que mantêm determinadas relações com outros grupos — relações, evidentemente, sujeitas a tensões, a alterações (são variáveis as possibilidades de exercer pressão sobre outros ou de ficar sujeito à pressão de outros). A «visão do mundo» transmitida ao jovem e por ele assimilada não deixará de reproduzir as transformações, os conflitos, as contradições que atravessam esse próprio mundo, num dado tempo e lugar.(...) verificámos que a literatura (romântica, poesia, oculto, espiritismo) chega desde cedo ao potencial aderente ao Goth. Em alguns casos, o conhecimento de música ligada ao movimento, faz-se logo a partir da influência dos irmãos mais velhos. É interessante notar que, geralmente, é a mãe, quem faculta aos filhos disposições literárias e religiosas de tendência místicas (muito provavelmente tem a ver com a resistência de características tipificadas femininas, como a sensibilidade e a menor racionalidade; coisas a que o homem não é alheio mas que este hesitará em referir demasiado frequentemente). Opera-se uma discrepância com os pais a nível do capital cultural, quando o indivíduo, mais tarde, ao contactar na Escola, e com os amigos, adquire novos elementos culturais. Os pais desejam que o filho reproduza as disposições anteriormente herdadas no seio familiar e que garantem o sucesso convencional e estabilidade económica. A sua necessidade de se unir a grupos (vem das necessidades ao nível do afectivo, no mínimo, de aceitação; se encontra compreensão, e valorização, ainda por cima num suporte estável – o Goth – tanto melhor) onde os seus valores e preferências sejam compreendidos, leva-o a identificar-se com algumas dimensões de determinada cultura juvenil, integrando-se onde for melhor aceite. Contudo, quando no grupo, o indivíduo não satisfaz as suas necessidades, vai-se afastando gradualmente deste. Estas culturas juvenis, tal como alguns dos nossos entrevistados nos declararam, embora tivessem traços nos quais estes se reviam, impunham determinadas normas informais que revelavam incompatibilidades com algumas das suas disposições. A liberdade de expressão individual, por exemplo, encontrava-se limitada, dentro do modelo de comportamento específico de determinado grupo. Afirmam que sofreram uma "evolução", desde esta fase, até conhecerem o movimento, onde se identificam – onde deixam de estar sozinhos, para conviverem com um grupo que os compreende e que os aceita em pleno, e onde têm uma liberdade de expressão, para serem criativos e aprofundarem as suas especificidades e potencialidades individuais.
Quando conhecem o movimento Goth, identificam-se com este, a partir de diversas disposições que já tinham anteriormente, e que revêem no movimento, partilhando de modos de pensar, sentir e agir, seguem individualmente um estilo de vida apoiado na criatividade e liberdade de expressão pessoal.
Embora possam ter amigos fora da esfera do movimento, afirmam que é no Goth que encontram a solidariedade de gostos e partilha de ideias, sem quaisquer dos constrangimentos que teriam ao divulgar gostos que são tidos como desviantes pela sociedade (impondo-lhes rótulos).”
[13]

Não é de todo a minha intenção dissertar sobre o estudo produzido nesta tese, no entanto achei pertinente, num registo de complementaridade, apresentar o conhecimento produzido pela mesma, seria no meu entender contraproducente apresentar um olhar sociológico sobre o Goth, sem antes dar conta do que já foi produzido. No entanto convém afirmar que após uma leitura da tese, torna-se evidente o caminho seguido pelos autores, que procuram mais trabalhar conceitos como juventude, cidadania e práticas sociais, e não tanto as dimensões do gótico, de facto as referências a tais dimensões por parte dos autores são mais fruto de uma primeira aproximação exploratória e senso comum erudito.

Parece-me então pertinente numa perspectiva sociológica, trabalhar aqui o conceito de identidade, ou seja, definindo como os actores constroem a sua identidade enquanto membros de um grupo, neste caso como constroem a sua identidade enquanto góticos, ou seja utilizando o que nos diz José Madureira Pinto, “é importante não se perder nunca de vista que as identidades sociais se constroem por integração e por diferenciação, com e contra, por inclusão e por exclusão, por intermédio de práticas de confirmação e práticas de distinção classistas e estatutárias”[14] de acordo com esta perspectiva percebemos aqui que a construção de uma identidade social não é linear, e que de facto podemos falar em mais que uma identidade, Claude Dubar diz-nos o seguinte “a identificação utiliza categorias socialmente disponíveis e mais ou menos legitimas a níveis diferentes (nomeações oficiais de Estado, denominações étnicas, regionais, profissionais... até de diferentes idiossincrasias...) Chamaremos de actos de atribuição aos que visam definir «que tipo de homem ou mulher você é» isto é a identidade para o outro; actos de pertença aqueles que exprimem que tipo de homem (ou mulher) você quer ser, isto é a identidade para si”[15] continuando dentro da perspectiva proposta por Claude Dubar temos aqui duas formas heterogéneas às quais algumas teorias sociológicas terão tendência a reduzir a um mecanismo único “o primeiro diz respeito à atribuição da identidade pelas instituições e pelos agentes directamente em interacção com o indivíduo. Não pode analisar-se fora dos sistemas de acção nos quais o indivíduo está implicado e resulta de «relações de força» entre todos os actores implicados e da legitimidade – sempre contingente – das categorias utilizadas. A construção legítima destas categorias constitui um desafio essencial neste processo que, uma vez concluído, se impõe colectivamente, (...) O segundo processo diz respeito à interiorização activa, à incorporação da identidade pelos próprios indivíduos. Não se pode analisar fora das trajectórias sociais pelas quais e nas quais os indivíduos constroem «identidades para si» que não são mais que a história que contam a si daquilo que são”[16] neste segundo processo Dubar utiliza Goffman no que ele chama de “identidades sociais reais” e refere que “estas utilizam também categorias que devem, antes de mais, ser legitimas para o próprio indivíduo e para o grupo a partir do qual define a sua identidade-para-si.”[17]
(A CONTINUAR NUM FUTURO POST)

[1] Schütz, Ricardo. Word histories, disponível em http://www.sk.com.br/sk-hist.html <07-06-2007>
[2] Fonte: Jordanes (historiador godo, autor do livro de Cassiodorus) Tradução de Mierow, Charles. Jordanes the origin and deeds of the goths, disponível em http://www.acs.ucalgary.ca/~vandersp/Courses/texts/jordgeti.html <07-06-2007>
[3] ____. Romantismo. Disponível em http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/j_g_ferreira/romantis.html <07-06-2007>
[4] Nota: Os textos completos em Inglês, referentes às obras apresentadas, podem ser consultados no Projecto Gutenberg em http://www.gutenberg.org
[5] Carvalho, José. Goth: o Ultra-romantismo juvenil em Lisboa, Trabalho de Investigação para a obtenção da Licenciatura em Sociologia. disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/goth%20o%20ultraromantismo.htm <02-01-2007z>
[6] NOTA: Béla Ferenc Dezsõ Blaskó, mais conhecido como Béla Lugosi, (Lugoj, 20 de outubro de 1882Los Angeles, 16 de agosto de 1956) Béla Lugosi começou a sua carreira nos palcos da Europa em várias peças de William Shakespeare. Mas no entanto tornou-se famoso pelo seu papel de Drácula numa encenação da clássica história, do vampiro Drácula de Bram Stoker.
[7] Philips, Marion. In Gothic Culture Timeline disponível em http://www.angelfire.com/moon/darkchamber/goth-timeline.htm#12th.goth-timeline <04-05-2007>
[8] Carvalho, José. Dionísio, Nuno. Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo. Disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/goth%20o%20ultraromantismo.htm
<17-06-2007>
[9] Tese disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/goth%20o%20ultraromantismo.htm
[10] Carvalho, José. Dionísio, Nuno. Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo. Disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/A%20Soc%20dos%20Mov%20Soc17.htm <17-06-2007>
[11] Madureira P, José. In Revista Crítica de ciências sociais, Nº 32, Junho de 1991, Lisboa. P 218.
[12] Pais, Machado. In SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 49, 2005, P 64.
[13] Carvalho, José. Dionísio, Nuno. Goth – O Ultra-romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo. Disponível em http://web.1asphost.com/jcbc2003/concls27.htm <17-07-2007>
[14] Madureira P, José. In Revista Crítica de ciências sociais, Nº 32, Junho de 1991, Lisboa. P 219.
[15] Dubar, Claude. In A Socialização construção social das identidades. 2º Ed, Porto editora, Porto, 1997, P 106.
[16] Idem, Op Cit P 107.
[17] Idem, Op Cit.